quinta-feira, 2 de abril de 2009

Vai lá conferir ao invés de acreditar na Globo!

Olá!

No dia 18/03/2009 fui participar de um estágio de vivência num acampamento do MST junto com alguns estudantes da UFBA. Foi uma experiência maravilhosa que me deixou renovado pra enfrentar essa batalha do cotidiano, onde tenho que lidar com problemas familiares, financeiros, amorosos, sociais e principalmente os problemas raciais (que são os piores, por serem velados).

Mas vou falar sobre a vivência com o MST, cansado de tanto ouvir a “Rede Bobo” e outras emissoras e espaços de mídia, tentar colocar por osmose na minha cabeça e na cabeça de todos os brasileiros, que o MST é um rebanho de ladrões de terra, arruaceiros, traficantes, assassinos e... #*%&!##$ (nem vejo mais a globo falar sobre o maníaco da serra elétrica, o tal Hildebrando Pascoal, Deputado Federal do estado do Acre), resolvi buscar saber o que é o MST, e como vivem as pessoas nos assentamentos e acampamentos.

Rolou essa grande oportunidade e eu agarrei logo, pedi dinheiro emprestado pra ir, me desdobrei, mas fui. Um amigo chamado Sidney Matos (autor do documentário “os crentes daqui”) foi quem me indicou o estágio de vivência (fui na sede!).

Ficamos no primeiro dia no assentamento de “Pedrinhas” onde tivemos místicas, grupos de estudo, dinâmicas, nos conhecemos, e decidimos quem ia pra onde. Fiquei no acampamento Recanto da Paz, que é liderado pelo Sr. José Silva, uma pessoa muito simpática que me contou muita coisa sobre o MST e sobre as mazelas que já passaram e passam as pessoas que ali vivem.

Lá conheci também um outro senhor, o Sr. Damião (dono de um morro gigantesco, e líder do assentamento de “Panema”) que nos falou sobre como é que determinadas pessoas da hierarquia do MST tratam a base que os sustenta. Quero deixar claro que não estou aqui pra defender os líderes do MST, mas sim às famílias que formam a linha de frente desse movimento que luta por uma reforma agrária justa para todos. Famílias como a de Genivaldo e Aidil, Sr.Wilson, Lobisomem (foi assim que o conheci) e etc.

Passamos 5 dias lá, e com meu “sensor aranha” fui percebendo várias coisas como:

1-Alguns moradores de lá, antes haviam morado em Cajazeiras (bairro onde moro).

2-Um dos “cabeças” do conselho de moradores do bairro onde moro, Waldir tem um terreno dentro do acampamento e também ocupa um cargo de diretor social da associação de lá.

3- O seu principal comparsa “Benedito” (também líder do conselho daqui) é dono de um bom terreno lá (logo ele que tem churrascaria, colégio de segundo grau, espaço de show, mora na Paralela e anda de Vectra zerinho?).

4- Uma senhora muito simpática chamada “Tia Sabina” (num sei tia de quem!) que tem uma creche aqui, tem um monte de ligações políticas e alguns patrimônios, também tem terreno dentro do acampamento do MST.

Essa foi a parte ruim da vivência, pois me bater com essas pessoas lá me deixou extremamente indignado. A parte boa foi que conheci gente honesta, trabalhadora, educada e inteligente, que apesar de viver numa situação de calamidade ainda conseguem sorrir, trabalhar, contar piadas e criar com dignidade os seus filhos.

Lá meti a mão na massa (fui pra somar e não subtrair, como pude perceber de alguns conterrâneos), cavei o chão, carreguei terra pra barragem que estava sendo construída, ajudei a botar água todos os dias pela manhã, e ainda de quebra ajudei na construção de uma casa de taipa.

Á rede Globo de Televisão e suas afiliadas, além de outras emissoras e outros veículos de informação que insistem em prejudicar e tentar diminuir a imagem do MST deixo a proposta: “Vem pra base sentir o suor, a mão calejada, o sol batendo e queimando a cara em pleno o meio dia, vem plantar pra ter o que comer, dormir no chão junto ao barro, carregar água nas costas, construir sua própria moradia, viver quase de esmola do governo, e arriscar suas vidas pelo que é direito básico de qualquer cidadão, o de comer, viver e trabalhar. Ao invés de ficar daí da emissora, manipulando informação e tentando confundir a população. pobre a lutar e difamar os seus, simplesmente, em favor dessa pequena parcela milionária da população, os grandes empresários, políticos e herdeiros das capitanias hereditárias.

Fábio Lira, ativista por instinto, músico e poeta por dom.


Um comentário:

  1. Bom texto cara...me fez lembrar algumas experiências que tive a anos atrás com o MST, uma vez no acampamento da juventude em Boa Vista do Tupim e em outro momento em um assentamento no sul do estado da Bahia, na época namorava uma garota que era Assessora de Comunicação do movimento, na secretaria baiana do mesmo.Nestes dois momentos, vi os dois lados da moeda, assim como vc, vi gente sofrida, mas que sabia dos motivos de seu sofrimento e vi crianças aprendendo sobre Che, Lampião e outros heróis sul americanos que nas escolas tradicionais tampouco são citados, nós fomos ao casamento do, até então, Secretário Estadual do MST, Valmir Assunção, hoje deputado estadual da Bahia, onde pude perceber todos os entraves burocráticos e tbm "democráticos" dos ideais daquele povo, encontrei pessoas importantes que tinham a luta no sangue, como o grande e finado Preto Góes, líder e letrista da banda de rap Clãnordestino com quem troquei algumas boas idéias, no entanto encontrei também pessoas de índoles duvidosas. Nas duas viagens citadas me bati com o polêmico José Rainha, hoje um dos homens mais ricos do país, ele que na primeira experiência, em Boa Vista do Tupim , parte seca e pobre da Chapada Diamantina, nem se sentou à mesa com seus companheiros de luta, chegando num carro quase que blindado, repleto de seguranças para protegê-los, não entendo de que até hoje,não eram todos socialistas?!Mas é isso, o velho Socialismo Real! Mesmo diante dos entraves burocráticos e da politicagem existentes no movimento, reconheço que é necessária a existência desta resistência e destas lutas constantes em prol da reforma agrária no país!!Valeu meu brother!!Abraços e parabéns pelo blog.

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